O cineasta Joel Pizzini, professor do Curso de Realização em Audiovisual da Escola Pública de Audiovisual (EAV) da Vila das Artes de Fortaleza teve o seu mais recente filme, “Elogio da Sombra” selecionado para representar o Brasil no Festival de Oberhausen, na Alemanha que acontece agora em maio. O filme, selecionado entre 7 mil inscritos no Festival participará da competição oficial, sendo exibido no próximo sábado (13).
Fundado em 1954, como o primeiro festival de cinema educativo da Alemanha Ocidental, o Festival de Oberhausen é considerado, atualmente o maior evento do mundo dedicado aos curtas-metragens experimentais. É a segunda vez que Pizzini participa da competição internacional, a primeira foi com “Dormente” em 2006. Por conta da repercussão do filme, o Festival adquiriu uma cópia do curta-metragem para o seu acervo, para fins de consulta e pesquisa dos especialistas em cinema que estudam a influência do cineasta russo Dziga Vertov, na produção contemporânea.
Elogio da Sombra é filme-ensaio de curta-metragem que compõe uma trilogia de Joel Pizzini, precedida por Elogio da Luz (2004) e Elogio da Graça,(2011) e que desta vez aborda o universo da dança butô de origem japonesa. Através de uma trama experimental, protagonizada por Emilie Sugai, (atriz-dançarina que trabalhou com Antunes Filho em “Foi Carmen”) o filme conta ainda com a participação evocativa de Kazuo Ohno, criador do Butoh e que vindo ao Brasil, influenciou diretores como Antunes Filho e o cantor Ney Matogrosso.
Trata-se de um mergulho no imaginário nipo-brasileiro através da interface entre dança e cinema num arranjo poético de luzes, sombras, formas, gestos, sons e movimentos.
Rodado em Mogi das Cruzes (SP) e pantanal sul-mato-grossense, o filme tem como locação central as ruínas de uma antiga fábrica de chá, construída nos anos 40 por um arquiteto japonês sob forma de um templo oriental. A fotografia é assinada por Gianni Toyota com imagens adicionais de Mário Carneiro (mestre do Cinema Novo) e dos fotógrafos Maurício Copetti e Edson Audi,. A produção é de Sérgio Pedrosa e Joel Pizzini, autor da montagem em parceria com Clarice Saliby. Integram a e equipe também, Jorge Effi, montador-assistente e editor de som, além de Sofia Marques, assistente de direção e produção do filme.
O primeiro filme brasileiro a ser premiado em Oberhausen foi “Couro de Gato” em 1961, curta-metragem de Joaquim Pedro de Andrade que integra o longa de episódios, “Cinco vezes Favela”, considerados um dos marcos inaugurais do Cinema Novo. A premiação na época foi essencial para o movimento que era liderado por Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Saraceni, Cacá Diegues e Gustavo Dahl e começara assim a ganhar uma dimensão internacional.
Oberhausen também é conhecido por ter sediado o manifesto histórico que criou as bases em 1962 do Cinema Novo alemão, que reunia 26 jovens autores, entre eles Werner Herzog, Wim Wenders, Alexander Kluge, Fassbinder, Margarete Von Trotta e Edgard Reitz.
Pizzini descobriu aliás em sua pesquisa para a restauração da obra de Glauber Rocha da qual foi curador, que os próprios artífices deste movimento, reconheciam publicamente a influência do Cinema Novo brasileiro na produção germânica da época, tanto que Fassbinder por exemplo realizou um filme chamado Rio das Mortes, cujo título é uma homenagem ao personagem de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.
Atualmente, Joel Pizzini trabalha na montagem e finalização do seu próximo longa-metragem, Rio da Dúvida, que recria a expedição Roosevelt-Rondon que partiu em 1913 de Corumbá (MS) até o Amazonas, liderada por Candido Rondon e o ex-presidente americano, Theodore Roosevelt.
Sobre Elogio da Sombra
Como numa antiga peça Nô, o fantasma (a sombra) do mestre do Butô ronda a casa, onde a discípula contemporânea, em pé diante da janela como diante de um espelho, é apenas uma silhueta feita sobretudo de dedos, mãos e braços. Seus gestos se intensificam, ora humanos, ora inumanos, enquanto acariciam o ar e a paisagem ou se movem como um peixe no aquário ou o cisne negro na lagoa. A morada do Butô vai então se abrindo e girando lentamente como uma sombrinha, as janelas se multiplicam, a luz do sol de repente invade o obscuro interior e se espraia como tábuas novas pelo carcomido assoalho, antecipando as escadas por onde, no final, a dançarina subirá, seguindo os movimentos sempre ascendentes do fantasma, esse guia poderoso e irresistível que é, ao mesmo tempo, o reflexo ideal da dançarina no espelho quase líquido do Butô.
Sobre Joel Pizzini
É pesquisador, autor de ensaios documentais premiados internacionalmente como "Caramujo-Flor" (1988), "Enigma de Um Dia"(1996)"Glauces" (2001) e "Dormente" (2006), Joel Pizzini conquistou com os longas"500 Almas" (2004) e "Anabazys"(2009), além da seleção oficial no Festival deVeneza, os prêmios de Melhor Filme,Som, Fotografia, Especial do Júri, Montagem, nosFestivais do Rio, Mar Del Plata, e Brasília. Para a televisão, a convite do Canal Brasil,realizou os retratos "Um Homem Só"(2001), "Elogio da Luz"(2003), "Retratoda Terra"(2004), "Helena Zero" (2006), entre outros. Conselheiro da Escola do Audiovisual de Fortaleza e Professor da PUC- Rj (pós-graduação em Comunicação) e Faculdade de Artes do Paraná, Pizzini foi artista residente da Unicamp do Arsenal/Fórum da Berlinale, dentro do projeto “Living Archive”. Trabalha ainda como Curador da Restauração da obra de GlauberRocha.. Pesquisador de novas linguagens, participou do projeto Artecidade e da Bienal de São Paulo, Mercosul com” videoinstações e direção de performances. Diretor de “Elogio da Graça”(Melhor curta no Grande Premio do Cinema Brasileiro) e Mr.Sganzerla, vencedor do Festival É Tudo Verdade (2010) e HBRFF em LosAngeles. Dirigiu recentemente o filmensaio "Olho Nú" (sobre Ney Matogrosso), co-produzido pelo Canal Brasil e Paloma Cinematográfica, premiado como melhor filme do Festival In-Edit e FestCine América do Sul e selecionado oficialmente para o Doc Lisboa, e Festivais de Havana, Guadalajara, FIPA (Biarritz). Atualmente criou a instalação “Ruído no Branco” em cartaz na Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre (RS) e produziu e dirigiu "Mar de Fogo", curta experimental selecionado para a competição oficial da Berlinale, 2015.
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Joel Pizzini - Polofilme
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