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Pela Azul

COLUNA

Isabel Lustosa

caderno3@diariodonordeste.com.br
24.05.2014

Crítica de cinema acidental

Cinema ainda é a maior diversão. Ainda mais com as tantas opções que hoje existem para se ver filmes recentes em casa. Outra dia, em que viajava pela Azul entre o Rio e Belô, vi na telinha uma espécie de trailer reunindo cenas dos filmes que poderiam ser vistos durante o voo. Foi essa colagem de cenas que inspirou este meu artigo que não tem, de jeito nenhum, a pretensão de ser uma crítica de cinema pra valer.
Nessas críticas, os profissionais analisam o roteiro, o desempenho dos artistas, a direção, a fotografia, a música. Aqui, ao contrário, a autora não lembra direito o título do filme, nem o nome do ator principal, tendo que recorrer de vez em quando ao Google, para completar as informações.
De modo que, desde já, me perdoem a pretensão e leiam essas linhas a seguir como mero passatempo, ou um daqueles papos gratuitos que a gente entretém com os amigos entre uma cerveja e outra.
Nebraska - Eu gostei muito de Nebraska. O Bruce Dern está formidável como aquele velho bêbado decadente, todo desmazelado, desgrenhado, barba por fazer, olhar vazio de quem já está fora do ar, arrastando os pés por uma estrada que deveria levá-lo ao encontro do US$ 1 milhão que ele acreditava ter ganhado. O roteiro é bom, mas bom mesmo é o clima de decadência que perpassa tudo. A casa onde mora o casal Grant em Billings parece um barraco; a vida sem glamour do bondoso filho que começa o filme sendo abandonado por uma namorada gorda, sem charme e sem beleza; o massacre diário que a detestável e velha mulher de Grant promove contra ele... Esta, aliás, é uma atriz sensacional! Como todo filme americano o desfecho descamba para a pieguice mais elementar como parece ser a determinação dos produtores para garantir bilheteria. O filme podia ter terminado uns 15 minutos antes.
Clube de Compras Dallas - Este foi outro filme de que gostei muito. O machista insuportável, caubói homofóbico e valentão de Dallas, no Texas que, de repente, se descobre com Aids, é a cara do que a gente viu acontecer à nossa volta entre o final dos anos 1980 e 1990. Gente que achava que a doença era coisa de homossexual e que, um dia, descobriu ter sido contaminado. Gente que discriminava os doentes por conta do que acreditavam ser resultado de suas práticas sexuais condenáveis e que passou a ser alvo do mesmo preconceito quando os sintomas da doença apareceram. Afinal, se era uma doença gay quem a tivesse só podia ser gay também. Se a história fosse só sobre isto, já daria um filme ótimo (evidentemente, isto sempre depende de um bom diretor e de bons atores). Mas, a reviravolta se dá pela reinvenção do protagonista a partir da doença. Desprezado pelo mesmo universo de valentões a que pertencia e lutando decididamente para achar um medicamento que prolongue sua vida, o protagonista vai à luta. E esta luta vai envolver o embate contra a indústria farmacêutica e suas perversas formas de fazer de doenças mortais fontes cada vais mais vantajosas de lucro.
Capitão Philips - Que situação extraordinária a do confronto entre o Richard Phillips, de Tom Hanks, e o pirata somali magro, esquálido, descalço e esfarrapado! Que diálogo formidável aquele em que o pirata diz que, da última vez em que sequestrara um navio, tinha obtido US$ 7 milhões e o olhar indagador do capitão para seu aspecto andrajoso como se perguntasse: "e aí? Do que adiantou?" Se o capitão representava o explorador maior, a potência norte-americana, não eram menos exploradores os chefões que cobravam dos moradores de algumas aldeias litorâneas recursos que deviam vir do resgate a ser cobrado a partir do sequestro de grandes cargueiros. O fato é que o dinheiro grosso nem fica na mão do comandante americano, mero empregado de uma grande empresa, membro da tradicional classe media branca norte-americana nem dos miseráveis piratas somalis. É chocante o contraste entre os recursos formidáveis de um lado e a miséria do outro, entre a África e a America. O "outro" que potencializa ao máximo o que pouco que tem obtendo algumas vitórias - como em Canudos? - dos fracos sobre os fortes, especialmente nas passagens em que os somalis se apossam do navio e raptam o capitão. As cenas do resgate são dramáticas mas os grandes momentos do filme são mesmo os diálogos ou silêncios entre Philips e Abduwali.
Não gostei muito - De "O lobo de Wall Street". Adoro Leonardo de Caprio e acho o máximo que ele, que podia ser só "mais um rostinho bonito", tenha se tornado o grande e versátil ator que é. E não é por culpa sua que o filme se alonga demais e gasta tempo com cenas tolas como aquela de comédia pastelão entre da briga de casal ou o sentimentalismo fora de lugar no coração de um verdadeiro "lobo" de sua relação com o pai. Mesmo a cena entre Di Caprio e o agente da receita em seu iate - a melhor situação do filme - poderia ter sido editada para que o ótimo diálogo em que a tentativa de suborno é insinuada e desmascarada tivesse maior impacto.
Detestei - "Philomena". Como é que podem gastar uma atriz como Judi Dench em filme tão medíocre, contracenando com ator tão canastrão? Ainda mais quando sabemos que sobre o mesmo tema existe um filme sensacional, creio que disponível no Netflix ou outro congênere: "Em nome de Deus". "The Magdalene sisters", título original, é um filme irlandês de 2001, sobre um convento onde pais católicos irlandeses internavam as filhas que tinham "se perdido" ou que podiam se perder. "Irmãs de Maria Madalena" é um ótimo nome para um lugar assim, onde o trabalho escravo era usado como pagamento pelos pecados cometidos ou pensados.
Finalmente - Achei "12 anos como de escravidão" bonito e bem narrado, apesar de um tanto quanto elementar. Acho que é um filme honesto no sentido em que a gente pode imaginar que o diretor expressa exatamente sua visão de mundo, com a modéstia de seus recursos criativos e interpretativos. Brad Pitt entra ali como Pilatos no credo, em papel menor, quase uma ponta.

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