Fala Cid Gomes

• Hoje, faz um ano que a polêmica declaração do então ministro da Educação, Cid Gomes (PDT), de que na Câmara dos Deputados havia de “uns quatrocentos, trezentos achacadores” veio à tona.
• O fato resultou na convocação dele para se explicar em plenário, onde, além de reafirmar o que havia dito, com dedo em riste, chamou o próprio presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de achacador.
• No final, Cid foi até a presidente Dilma e entregou o pedido de exoneração do cargo no qual estava há apenas três meses.
• Na noite passada, a data foi lembrada em tom de orgulho pelo irmão dele: Ciro Gomes, ao ser questionado por jornalistas sobre o que havia achado do Supremo Tribunal Federal ter acatado denúncia contra Cunha, colocando-o na posição de réu nas acusações da “Operação Lava Jato”.
• Era a festa de filiação de políticos cearenses que antes eram do PROS e, com abertura da janela partidária, foram para o PDT.
• Antes da cerimônia, Cid conversou com a imprensa nacional.
• Afirmou esperar que “a justiça seja feita” no julgamento do presidente da Câmara.
• Defendeu a presidente Dilma, dizendo acreditar que ela seja uma pessoa bem intencionada e honesta.
• E pôs em dúvida o que é dito numa delação premiada.
• Na opinião dele, um eventual bônus por conta de uma delação pode levar a denúncias “oportunistas” e “infundadas”.
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• Segue a entrevista na íntegra concedida a jornalista Carmen Pompeu:
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• O senhor acredita que Eduardo seja punido agora que virou réu no STF?
• Cid - “Esse é um país que vai para frente. Pessoas, por mais importantes que sejam, se tem denúncias com conteúdo, essas pessoas são investigadas. Como ele é presidente da Câmara, ele vai ser investigado num processo que vai correr no Supremo Tribunal Federal. Espero que a justiça seja feita”.
• E sobre a suposta delação do senador Delcídio do Amaral, o senhor no que foi revelado?
• “Não sei. Não tenho conhecimento dela não. País maduro é um país onde acontece isso: se alguém tem alguma denúncia, essa denúncia é apurada, investigada, e quem for culpado seja punido. É assim que deve acontecer. Lamentavelmente, no Brasil, durante muitas décadas, só ia para cadeia, só ia investigado o ladrão de galinha. Colarinho branco, empresário, político passavam à margem da lei e da justiça. O Brasil está se reinventando nessa área. É claro que isso só não vai resolver os problemas do Brasil. Eu acho que se limpar da política e do mundo empresarial desonestos corruptos isso sim é um passo grande que se dá. Mas, para além disso, acho que deve ser refundada a relação entre o Executivo e o Legislativo no Brasil, que é uma relação espúria pautada pelo fisiologismo; pautada pela repartição de cargos públicos não para atingir interesse público, mas para atender interesses particulares".
• Já tem algum tempo que o senhor faz esse alerta, mas a presidente Dilma não deu até agora sinal de que vá fazer isso.
• "Nunca acreditei que a Dilma fosse salvadora da pátria. A Dilma é ao mesmo tempo criatura desse processo e vítima dele. Acho que não foi ela quem deu a maior contribuição para que essa relação espúria acontecesse. Isso já vem do passado e de um passado remoto. Isso vem da época do Fernando Henrique".
• Mas até o PT, que é o partido dela, tem feito pressão cobrando mudança de postura.
• "Boa parte do PT é tão fisiológico quanto o PMDB e quanto o PSDB do passado".
• O senhor continua achando que ela deveria sair do PT?
• "Eu nunca disse que a Dilma deveria sair do PT. O que eu disse uma vez, e continua sendo a minha opinião, é que eu, no lugar dela, procuraria fazer um governo para ficar para a história. E um governo para ficar para história, a meu juízo, imporia nesse momento uma desvinculação de partidos políticos. Não é ela sair do PT, mas se desvincular de partidos políticos e fazer uma grande conclamação ao Brasil para um pacto nacional. A crise econômica é um fato".
• Ela pode ser superada?
• "Claro que pode. Desde que se crie um ambiente na política. E o ambiente na política hoje está absolutamente radicalizado por um lado e entregue ao fisiologismo por outro lado. Não tem caminho. Não tem salvação do jeito que está aí. Eu no lugar dela faria um pronunciamento à Nação, dizendo o seguinte: Olha, eu quero ficar para a história como alguém que ajudou o povo brasileiro, ajudou o país a sair da crise. Tive alguma responsabilidade sobre essa crise, mas quero consertar as coisas. Para isso, quero assumir com o povo brasileiro. Eu não participarei do processo político da minha sucessão. Deixarei isso entregue aos políticos. E em contra partida eu peço aos políticos que se desarmem; peço ao Congresso Nacional que se desarme e aprove as medidas que são fundamentais para que a gente recupere a economia do Brasil. E pronto. E, para que isso fique claro, ela se desfiliaria. Se fosse do PHS, do PHS. Se fosse do PDT, do PDT. Mas como ela é do PT, se desfiliaria do PT. Não é nada contra o PT".
• Ela seria bem-vinda no PDT?
• "Não é isso. O Brasil precisa se desprendimento. E eu, na posição dela, daria uma demonstração de desprendimento: Eu vou me desfiliar do partido que estou, independente de qual seja. Não é nenhuma declaração contra o PT. Até porque eu acho o PT muito parecido com o PMDB; numa parte dele, muito parecido com o PSDB. Enfim, não tem grande diferença. Mas ela dar uma demonstração para o Brasil de que ela quer cuidar exclusivamente da economia; quer cuidar essencialmente de retomar o crescimento e desarmar o ambiente da política, que hoje está muito ruim para uma governança".
• Há clima para isso?
• "Até que me provem o contrário, a Dilma não tem nenhuma relação com esse mar de lama que está posto aí. Ao contrário, ela foi quem contribuiu, no início do primeiro governo dela, para desmontar isso. Para mim, o maior ícone nessa história de corrupção na Petrobras chama-se Paulo Roberto da Costa (acho que é esse o nome dele), que juntou uma fortuna pessoal próxima de oitenta milhões de reais É claro que muitos políticos se beneficiaram disso. Mas ele para mim é o ícone disso tudo. Quem demitiu esse cara há seis, cinco anos foi a Dilma. A Dilma não tem conivência, não tem responsabilidade com isso. Hoje está sendo desvendado. Mas é uma coisa que aconteceu no passado".
• Atinge o ex-presidente Lula?
• "Já disse e repito: o Lula, para mim, é o maior presidente da história dos últimos 30 aos do Brasil. Para mim, ele nunca foi o deus que era tido por muitos há quatro anos, nem é o diabo que hoje procuram fazer dele. Eu acho que, se a gente pesar na balança o que o Lula fez de bem e o que o Lula fez voluntária ou involuntariamente de mal, o bem vencerá. Ele fez muito mais bem ao País do que mal. E acho que daqui a alguns anos a história vai fazer justiça com ele, Agora se você me perguntar se ele fez uma política de fisiologismo, eu digo que sim. Igual ao Fernando Henrique Cardoso. Padilha e outros tantos aí é a mesma turma que estava junto do Fernando Henrique Cardoso".
• Com o Eduardo Cunha réu, o PMDB cai?
• "Todo mundo sabe a minha opinião sobre o PMDB: aquilo que representa o que há de mais podre na política brasileira, que é o fisiologismo, que é a chantagem, que é o achaque nessa relação com o Executivo. Agora, a postura pessoal de um membro do PMDB não quer dizer que todos sejam iguais. Acho que tem muita gente no PMDB igual a ele".
• Mas a futura e possível queda do Eduardo Cunha não significa que o PMDB, como partido, vá cair?
• "Acho que as instituições brasileiras atingiram um grau… têm atingido ao longo desses anos um grau de maturidade que é uma conquista do povo brasileiro. E ao em vez de passar a impressão, como infelizmente muitos tentam passar, de que as coisas agora são mais sujas do que eram no passado, não existe uma percepção de que agora os podres são mais investigados. No passado, era tudo empurrado para debaixo do tapete".
• A saída de Eduardo Cunha da presidência da Câmara fortalece ao enfraquece a presidente Dilma?
• "Acho que de alguma forma passa o exemplo para o fisiologismo, que infelizmente é a maioria da Câmara dos Deputados, de que essa coisa pode dar cadeia. Então, pode servir como alerta para essas pessoas".
• Há quem acredite que muitos não queiram a saída dela, porque quem conduziria o processo de impeachment seria Eduardo Cunha.
• "Se você olhar qualquer pesquisa de opinião pública, a pesquisa vai dizer assim: 60% são a favor do impeachment. Isso para mim é uma confusão que se faz com relação ao Instituto do impedimento de um presidente. Não é o fato de você não gostar, se decepcionar, enfim, ter decepções com o governo que justifique o fato dele ser, desse governo ser afastado através de um processo de impeachment. Um processo de impeachment é justificável, é aceito, é recomendável quando o executivo malversa, quando o executivo rouba, quando o presidente é desonesto. Eu tenho pessoalmente uma crença de que a Dilma não é desonesta. Acho que a Dilma é uma pessoa bem intencionada; é uma pessoa séria e não tem responsabilidade sobre esse mar de lama que está vindo à tona no Brasil. Esse mar de lama é uma coisa que é resultado de um longo processo dessa má relação entre o Parlamento e o Executivo. A troca de cargos pelo fisiologismo pelo apoio no Congresso Nacional e os desvios, a deturpação do que é o real sentido do que é o poder público que é fazer o bem, melhorar a vida das pessoas. Muita gente se aproveitou, ocupou cargos públicos para roubar, para botar dinheiro no bolso, para enriquecer, para financiar campanhas políticas, enfim, uma série de problemas que hoje estão vindo à tona, mas que existe há muito tempo. A Dilma não é responsável por isso. Ao contrário, é no governo dela onde as instituições estão funcionando melhor que essas coisas estão vindo à tona. Todo esse escândalo da Petrobras aconteceu em 2002, 2003, 2004 e até antes disso. O governo Fernando Henrique… esse Delcídio, por exemplo, foi diretor da Petrobras no governo Fernando Henrique".
• Então o senhor não acredita no conteúdo da suposta delação?
• "Não tenho elementos para fazer um juízo de mérito. Agora, delação premiada, ou seja, você ter um bônus, um eventual bônus, um eventual benefício por conta de uma delação, pode levar a denúncias oportunistas, infundadas e tal. Se o que ele está denunciando for apurado e se comprovado, eu serei o primeiro a reconhecer e levantar a minha opinião sobre. Para mim, a Dilma é uma pessoa séria e bem intencionada até que me provem o contrário".